Autismo
e neurodiversidade
Você
já ouviu falar no termo neurodiversidade?
O termo neurodiversidade foi cunhado pela socióloga e
portadora da síndrome de Asperger Judy Singer em 1999 num texto com o sugestivo
título de “Por que você não pode ser normal uma vez na sua vida? De um
‘problema sem nome’ para a emergência de uma nova categoria de diferença”, ou
seja, trata-se de uma diferença humana que deve ser respeitada como outras
diferenças, sejam elas raciais, sexuais, entre outras, também chamado
neurologicamente divergentes ou neuroatípicos.
Diversas pessoas atualmente são diagnosticadas com o
transtorno do espetro autista em todas as idades, desde a forma mais branda e
de alto funcionamento (chamado Aspergers) até as formas mais severas, de baixo
funcionamento, no qual há a ausência da fala entre outras dificuldades.
Pessoas como Bill Gates, Albert Einstein, Lionel Messi,
Wood Alen e Isaac Newton são considerados ou diagnosticados autistas e
provavelmente você nem sabia!
E
aí.. Autista é deficiente ou neurodiverso?
Para alguns teóricos sobre modelos sociais, o conceito de
deficiência só é considerado desvantajoso ou problemático porque vivemos em um
ambiente social que considera isso desvantajoso. Exemplo: Andar de cadeira de
rodas é um problema apenas por vivermos em um mundo cheio de escadas. Da mesma
forma, podemos pensar no autista: só é um problema porque nossa sociedade
estabelece o contato visual como um elemento básico para interação humana.
Se formos pensar bem, podemos estender isso mais além.
Nossa sociedade cultua o corpo perfeito, onde os gordos, velhos e “deficientes”
são rejeitados e excluídos. Isso só aumenta o preconceito e faz com que as
pessoas sintam-se fracassadas por não atingirem o modelo ideal.
Você sabia que no século 19 os surdos eram considerados
estrangeiros vivendo nos Estados Unidos e foi até cogitado pelo movimentos dos
surdos fundar um estado no Oeste do país e, na Inglaterra, no anos 1880, foi
sugerido que os surdos deixassem seu país e criassem um estado de surdos no
Canadá? Pois é.. e hoje temos uma grande evolução em leis de inclusão e também
na aprovação da lei que reconhece LIBRAS como um língua assim como o Português
– A Linguagem Brasileira de Sinais.
Existe atualmente, a chamada cultura autista,
analogamente ao orgulho surdo, uma tomada de consciência de um grupo que foi
estigmatizado pela maioria da sociedade. É uma autodeclaração de uma identidade:
afirmar “sou surdo” ou “sou autista” permite que o discurso da dependência e
anormalidade seja substituído pela celebração e o orgulho de ser autista, ser
neurodivergente.
A procura pela cura dos autistas levaram diversas pessoas
com esse espectro a se sentirem incompreendidos e desconsiderados e, como
consequência disso, em 1992, surgiu entre os autistas australianos e dos
Estados Unidos a Autism Network
International (ANI) como o lema “nada sobre nós, sem nós”, ou seja, a
tomada de decisões, no que se refere aos autistas, não pode acontecer sem a
participação dos próprios autistas.
.
Em contrapartida há também associações de pais pró-cura
como a AMA (Associação de Amigos de Autistas) lutando pelo direito de terem
terapias e medicamentos garantidos por lei para seus filhos autistas, principalmente
a terapia cognitiva ABA (Análise Aplicada do comportamento – Applied Behavior Analysis) que, para
muitos pais constitui a única terapia que permite que as crianças autistas
realizem algum progresso no estabelecimento de contato visual e em certas
tarefas cognitivas.
Para os ativistas do movimento anticura, essa terapia
reprime a forma de expressão natural dos autistas e o movimento também visa
impedir a ação medicamentosa desnecessária.
O fato é que, diante dos dois lados, o transtorno continua
sendo uma categoria problemática, pois não existe consenso nem em relação à
origem do transtorno, nem acerca da intervenção clínica mais adequada.
Toda essa discussão pode levar à questões sobre políticas
públicas que possibilitassem o acesso ao tratamento àqueles que desejam ser
tratados, o direito à recusa de quem não quer e também em um modelo de educação
no qual respeitasse a diferença de cada criança cujas qualidades fossem
maximizadas e defeitos
minimizados.
Isso abre para outras questões também. Com o avanço das
tecnologias, logo se encontrará um método para detectar o autismo em fetos e,
com isso, a permissão do aborto nesses casos. É uma questão delicada, pois, até
que ponto os exames conseguirão detectar o grau de autismo que a pessoa desenvolverá?
Escolheríamos apenas pessoas perfeitas para o nosso padrão de perfeição?
Pró-cura ou anticura, o importante é pensarmos sempre na
aceitação das diferenças e respeitar o padrão de funcionamento de cada um.
Se você conhece uma pessoa autista, procure saber o que a
incomoda, mas saiba que ela pode gostar sim de interagir com os outros. Assim
como uma pessoa neurotípica tem suas preferências (eu, por exemplo, sou
introvertida e, geralmente não começo assuntos a não ser que a pessoa venha
conversar comigo!) a pessoa autista também tem seu modo de agir no mundo! Aliás,
todos tem sua forma, não é mesmo? =)
Na Psicologia, temos o dever de respeitar a natureza e a
diferença das pessoas, sem violentá-las ou estigmatizá-las por qualquer
condição que se encontre, isto está em um dos princípios fundamentais no nosso
código de ética: “II. O psicólogo
trabalhará visando promover a saúde e a qualidade de vida das pessoas e das
coletividades e contribuirá para a eliminação de quaisquer formas de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.”
Se você quiser saber mais sobre o mundo autista, existem
diversos sites e vídeos feitos por autistas que explicam mais a fundo suas
experiências e diferenças, alguns deles:
https://www.youtube.com/watch?v=TknFlj_xUK4