domingo, 1 de setembro de 2019


Autismo e neurodiversidade


 

Você já ouviu falar no termo neurodiversidade? 


O termo neurodiversidade foi cunhado pela socióloga e portadora da síndrome de Asperger Judy Singer em 1999 num texto com o sugestivo título de “Por que você não pode ser normal uma vez na sua vida? De um ‘problema sem nome’ para a emergência de uma nova categoria de diferença”, ou seja, trata-se de uma diferença humana que deve ser respeitada como outras diferenças, sejam elas raciais, sexuais, entre outras, também chamado neurologicamente divergentes ou neuroatípicos.

Diversas pessoas atualmente são diagnosticadas com o transtorno do espetro autista em todas as idades, desde a forma mais branda e de alto funcionamento (chamado Aspergers) até as formas mais severas, de baixo funcionamento, no qual há a ausência da fala entre outras dificuldades.

Pessoas como Bill Gates, Albert Einstein, Lionel Messi, Wood Alen e Isaac Newton são considerados ou diagnosticados autistas e provavelmente você nem sabia!


E aí.. Autista é deficiente ou neurodiverso?

Para alguns teóricos sobre modelos sociais, o conceito de deficiência só é considerado desvantajoso ou problemático porque vivemos em um ambiente social que considera isso desvantajoso. Exemplo: Andar de cadeira de rodas é um problema apenas por vivermos em um mundo cheio de escadas. Da mesma forma, podemos pensar no autista: só é um problema porque nossa sociedade estabelece o contato visual como um elemento básico para interação humana.

Se formos pensar bem, podemos estender isso mais além. Nossa sociedade cultua o corpo perfeito, onde os gordos, velhos e “deficientes” são rejeitados e excluídos. Isso só aumenta o preconceito e faz com que as pessoas sintam-se fracassadas por não atingirem o modelo ideal.

Você sabia que no século 19 os surdos eram considerados estrangeiros vivendo nos Estados Unidos e foi até cogitado pelo movimentos dos surdos fundar um estado no Oeste do país e, na Inglaterra, no anos 1880, foi sugerido que os surdos deixassem seu país e criassem um estado de surdos no Canadá? Pois é.. e hoje temos uma grande evolução em leis de inclusão e também na aprovação da lei que reconhece LIBRAS como um língua assim como o Português – A Linguagem Brasileira de  Sinais.

Existe atualmente, a chamada cultura autista, analogamente ao orgulho surdo, uma tomada de consciência de um grupo que foi estigmatizado pela maioria da sociedade. É uma autodeclaração de uma identidade: afirmar “sou surdo” ou “sou autista” permite que o discurso da dependência e anormalidade seja substituído pela celebração e o orgulho de ser autista, ser neurodivergente.

A procura pela cura dos autistas levaram diversas pessoas com esse espectro a se sentirem incompreendidos e desconsiderados e, como consequência disso, em 1992, surgiu entre os autistas australianos e dos Estados Unidos a Autism Network International (ANI) como o lema “nada sobre nós, sem nós”, ou seja, a tomada de decisões, no que se refere aos autistas, não pode acontecer sem a participação dos próprios autistas.


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Em contrapartida há também associações de pais pró-cura como a AMA (Associação de Amigos de Autistas) lutando pelo direito de terem terapias e medicamentos garantidos por lei para seus filhos autistas, principalmente a terapia cognitiva ABA (Análise Aplicada do comportamento – Applied Behavior Analysis) que, para muitos pais constitui a única terapia que permite que as crianças autistas realizem algum progresso no estabelecimento de contato visual e em certas tarefas cognitivas.

Para os ativistas do movimento anticura, essa terapia reprime a forma de expressão natural dos autistas e o movimento também visa impedir a ação medicamentosa desnecessária.

O fato é que, diante dos dois lados, o transtorno continua sendo uma categoria problemática, pois não existe consenso nem em relação à origem do transtorno, nem acerca da intervenção clínica mais adequada.

Toda essa discussão pode levar à questões sobre políticas públicas que possibilitassem o acesso ao tratamento àqueles que desejam ser tratados, o direito à recusa de quem não quer e também em um modelo de educação no qual respeitasse a diferença de cada criança cujas qualidades fossem maximizadas e defeitos minimizados.

Isso abre para outras questões também. Com o avanço das tecnologias, logo se encontrará um método para detectar o autismo em fetos e, com isso, a permissão do aborto nesses casos. É uma questão delicada, pois, até que ponto os exames conseguirão detectar o grau de autismo que a pessoa desenvolverá? Escolheríamos apenas pessoas perfeitas para o nosso padrão de perfeição?

Pró-cura ou anticura, o importante é pensarmos sempre na aceitação das diferenças e respeitar o padrão de funcionamento de cada um.

Se você conhece uma pessoa autista, procure saber o que a incomoda, mas saiba que ela pode gostar sim de interagir com os outros. Assim como uma pessoa neurotípica tem suas preferências (eu, por exemplo, sou introvertida e, geralmente não começo assuntos a não ser que a pessoa venha conversar comigo!) a pessoa autista também tem seu modo de agir no mundo! Aliás, todos tem sua forma, não é mesmo? =)




Na Psicologia, temos o dever de respeitar a natureza e a diferença das pessoas, sem violentá-las ou estigmatizá-las por qualquer condição que se encontre, isto está em um dos princípios fundamentais no nosso código de ética: “II. O psicólogo trabalhará visando promover a saúde e a qualidade de vida das pessoas e das coletividades e contribuirá para a eliminação de quaisquer formas de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.”

Se você quiser saber mais sobre o mundo autista, existem diversos sites e vídeos feitos por autistas que explicam mais a fundo suas experiências e diferenças, alguns deles: 

           https://www.youtube.com/watch?v=TknFlj_xUK4






Referência: ORTEGA, Francisco. Deficiência, Autismo e neurodiversidade. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/csc/v14n1/a12v14n1.pdf

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