sábado, 14 de dezembro de 2019

Narutoterapia - A dor e a alegria de ser adolescente



      Para os fãs de Naruto – um prato cheio e, para os fãs de Psicologia, mais ainda!

      Minhas filhas adolescentes, algum tempo atrás, me apresentaram o melhor anime de todos – Naruto! Só tenho a agradecer. Esse anime chegou numa fase bem complicada da minha vida e posso dizer que ajudou até na minha psicoterapia! Depois de me apaixonar e me viciar, assisti diversas vezes e cada episódio me ensinou algo. Assim como superação e determinação,  podemos resumir o anime em uma palavra: EMPATIA. O Naruto me ensinou o verdadeiro significado desta palavra.

      O tema “adolescência” tem ganhado cada vez mais força em minha vida profissional. Após mais de 1 ano trabalhando numa escola diretamente com eles, surgiu a oportunidade de realizar uma palestra. Enquanto reassistia o episódio 31 do Naruto Shippuden, resolvi utilizar meu amigo Naruto para falar sobre as dores e as alegrias de ser adolescente.


      Para quem não conhece o anime ou tem uma vaga lembrança da sua infância, vou contar resumidamente a história dele, resumidamente mesmo, pois são mais de 700 episódios.

      O Naruto vive na época em que existiam ninjas, mora na aldeia da Folha e quando nasceu, foi selada uma besta, um monstro muito poderoso cheio de ódio dentro dele para que esse monstro não destruísse a vila. Órfão, cresceu sozinho, sendo desprezado por todos da vila e tratado como monstro.

      Em japonês, no anime, essas pessoas são chamadas de jinchuuriki. Existem 9 bestas e, consequentemente, 9  jinchuuriki espalhados pelas vilas. Geralmente se tornam ninjas muito poderosos e, também, são tratados como armas vivas para dominar outras vilas.

      A cena que usei é o episódio 31 do Naruto Shippuden – O legado - no qual ele, junto com alguns amigos, vai resgatar um  jinchuuriki como ele, o Gaara. O Gaara também tem uma besta selada nele, também cresceu sendo desprezado por todos e em algum momento no anime, se tornou amigo do Naruto. O Gaara foi capturado por pessoas muito poderosas e más que queriam retirar-lhe a besta. Neste processo, o  jinchuuriki morre e, neste neste episódio, ele já está morto, porém, a ansiã - uma das amigas do Naruto - uma velha médica ninja da vila da Areia - o salva, dando sua própria energia vital, ou seja, dá sua vida em troca da do Gaara com a ajuda do Naruto.





      É muito comum hoje em dia falar que ser adolescente é difícil. Vocês já devem ter ouvido algumas falas, geralmente para seus pais como “Nossa, você tem adolescente em casa? Xii.. Deve passar trabalho..."

      E vocês, adolescentes, acham que é difícil? Alguns podem responder que é normal, mas, a maioria, me diz ser difícil. Os pais não entendem, a escola não entende, ninguém entende e tudo é muito intenso.

      Cada um tem sua vivência individual e suas dores específicas, porém, geralmente essas dores giram em torno desses 3 processos:

      Deixar a infância -  Tudo é recebido prontinho e, de repente, você se vê fazendo suas próprias tarefas e tendo RESPONSABILIDADES.

É bom ser criança: não precisa fazer serviços domésticos, a mãe ou o pai dá tudo na boquinha, tudo prontinho e no final do dia é só deitar e dormir. Quando você atinge uma certa idade, já tem que lavar a louca, tirar o lixo, fazer seu próprio pão, tem que fazer dever de casa, passar de ano, e assim começam a cobrança e as discussões em casa.

      Fracassar – fazer as escolhas erradas, tirar notas baixas, decepcionar os pais e aos amigos, se apaixonar por quem não sente o mesmo por nós, e a auto-estima começa a ir lá pra baixo.

A gente se sente fracassado quando erra, né? Bate aquele arrependimento.. Porque fui dizer que gosto dele, por que não estudei..


    Sentimento de abandono - de não sermos amados o suficiente, como gostaríamos que fôssemos, nos sentimos sozinhos.. 



Muitas coisas nos fazem sofrer, não é mesmo?

   Pois bem, nem só de sofrimento vivemos. Temos também alegrias nos mesmos processos de dor. Seja como a Ino (personagem do anime) e vamos ver um outro ângulo.. 

      Deixar a infância, fazer suas próprias tarefas e ter RESPONSABILIDADE – aqui você ganha algo também, uma coisa chamada: LIBERDADE: Pode escolher como quer fazer, qual a sua maneira de fazer as coisas, o que gosta, o que não gosta.

      Fracassar – O medo de decepcionar as pessoas ou de fazer escolhas erradas muitas vezes nos impedem até de tentar novamente, mas.. Quantas escolhas erradas te fizeram ver o que é certo?

Tirar notas baixas te dizem de alguma forma que você precisa estudar mais. Sabe que se continuar tirando notas baixas, vai repetir o ano e, consequentemente, ficar mais tempo na escola. Infelizmente, estudar para passar é o que nos é ensinado e nossa criatividade é ceifada. Sabemos que a escola não é o melhor lugar do mundo para a maioria das pessoas, mas deixemos este assunto para uma outra discussão.. Por mais que o seus pais te cobrem notas boas, você mesmo sabe as consequências disto e a escolha continua sendo sua.

      Sentimento de abandono - Se sentir sozinho no mundo também tem sua alegria: você pode descobrir que existem muitas pessoas que também sentem o mesmo e que, assim como você, querem ter pessoas por perto. Aproveite para estar perto delas! Você pode fazer novos laços de amizade, ou mesmo, resgatar os antigos e transformar a amizade para algo mais profundo.

      É isso que o Naruto nos diz neste episódio: Assim como o Naruto sente a dor de ter crescido abandonado por todos, o Gaara também e, quando o Naruto vê além do ódio dele (ele era mauzão), entende que a dor dele é a mesma que a sua, e, com atitudes de empatia, ensina para o Gaara o poder do amor e, assim, eles constroem um laço muito forte de amizade. Todos temos esse poder misterioso do Naruto – o de tocar o coração das pessoas. Isso acontece também através da dor. Já percebeu que na dor nos tornamos mais humanos e próximos?

      Quando nos tornamos adolescentes, há naturalmente um certo distanciamento da família e, nesta fase, os amigos se tornam muito importantes: é aqui que começamos a construir nossas identidades, a saber quem somos nós. E aí começam os conflitos com os pais. Muitos pais e, às vezes, o próprio jovem resiste a esse distanciamento: os pais ainda querem dizer quais escolhas vocês tem que fazer e ainda querem vocês de alguma forma sob o controle deles. Os pais criticam as coisas novas, novos olhares, novas formas de entender o mundo e muitas vezes, podem dizer: “essa juventude está perdida”, mas, esquecem-se que eles (nós - adultos) estão ensinando a juventude. Assim como o jovem critica o que é velho, mas, se esquecem que o velho nos trouxe até aqui. 



      A velha anciã (Chyo Ba-Sama) viu, por mais que resistisse a nova forma de olhar o mundo - que foi o Naruto e seus amigos que trouxeram - que, depois de muitos erros cometidos no passado, pode aprender com o novo e, também, o novo pode aprender com o velho, afinal, só ela sabia realizar a técnica de ressuscitação.

      
      É como o tempo de germinação de uma árvore que dá frutos. Antes de virar árvore, era uma semente e, dentro do seu fruto, contém a semente com todas as informações que precisa para dar frutos novamente.
   O que eu quero passar pra vocês é: A vida é feita dores e alegrias e você só vai descobrir isso, vivendo. Saber que que nossos erros fizeram com que hoje nós façamos as escolhas certas, não importa quantos erros precisemos cometer, isso se chama experiência!

      Todo ser humano passa por isso, isso quer dizer que seus pais também passaram (e ainda passam) e, lembrar disso, pode doer tanto que eles preferem negar. Ver o filho que sempre precisou dele para tudo não precisar mais tanto assim, dói também. Desde que vocês nasceram, eles foram seus pais, e, nessa nova fase dos filhos, a resistência deles pode esconder algo a mais: o que eles serão e farão agora que seus filhos não precisam mais tanto assim? Está aí uma ótima oportunidade para reencontrarem-se ou reinventarem-se. Pode ser dolorido, mas também é transformador.

      Então, adolescentes, não se sintam privilegiados ou sofredores exclusivos com as dores e alegrias de viver no mundo, pois, todos estamos vivendo isso diariamente!

      Para os jovens, deixo duas perguntas para reflexão: Que adultos vocês querem ser? O que precisa ser mudado?

Lembrem-se que essa é uma grande responsabilidade e a liberdade de escolha é de vocês, afinal, com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades!

     Para os adultos: Que adultos vocês queriam ter sido? O que precisa ser mudado? Lembrem-se do desejo de mudar o mundo que tinham quando eram jovens, porque, talvez, esse mesmo desejo esteja nos seus filhos.. Descubra, permita-se!



domingo, 15 de setembro de 2019


                     

Morte – Um fim ou um recomeço? 


      A morte usa muitas roupagens. As imagens na nossa psique (alma) ou nas nossas fantasias de morte não aparecem como a morte em si. Perceba em seus sonhos: Quando você sonha que morreu, nunca é o final, geralmente a cena corta para um depois, ou se repete ou você acorda. Isso significa que a morte não aparece como fim, mas como uma possibilidade de um recomeço. Mesmo que você sonhe que morreu e acorda, continuará sua vida acordado, não é mesmo? A questão sempre fica em aberto. 


   
      Para sua psique, assim como o mundo a sua volta, a morte aparece a fim de dar lugar à transformação: A flor murcha para florescer de novo, a cobra perde sua pele para uma nova, o livro acaba e começarmos outro, o sol se põe para dar lugar a noite e voltar no dia seguinte, a criança vira adulta: essa é a forma criativa que mata o velho para produzir o novo.

      Quando se tem vontade de morrer, quando você tem fantasias ou acha que não tem mais sentido essa vida, algo está tentando se transformar: o padrão antigo precisa terminar completamente e uma nova vida precisa surgir. 

   
      Na psicoterapia, todas as fantasias e desejos de morte são explorados juntamente com o paciente a fim de buscar o significado disso para cada um. Dessa exploração conjunta, surgem outras imagens e símbolos que darão direção ao encontro da transformação que o indivíduo necessita. Assim como a alma grita e anseia pela transformação, ela também abre diversas possibilidades para isso. O analista, age como um “decifrador” e "ampliador" desses símbolos e o caminho é percorrido por ambos, passo a passo, em direção ao novo ser que desabrocha no percurso. 





Referência: HILMANN, James. Suicídio e Alma. Tradução: Sônia Maria Caiuby Labate, Petrópolis, RJ; Vozes, 1993.

segunda-feira, 2 de setembro de 2019



Suicídio, morte e alma


Quando nascemos, não temos idade suficiente para morrer mas, à medida em que crescemos, já estamos morrendo. A morte é nossa única certeza e este é o ciclo “natural” dos seres vivos. Entretanto, quando nos aproximamos da psique, da alma de uma pessoa, percebemos que não é tão simples assim. A morte e o suicídio são temas discutidos desde tempos antigos pelos filósofos, pela sociedade e pelas religiões.  

Há maior probabilidade de suicídio no lar do que num hospício. Pessoas famosas, amigos, vizinhos ou até nós mesmos. Este tema pode aparecer dentro do curso normal em qualquer vida e vem atrelado à vergonha: a lei considera crime, a religião pecado e a sociedade vira as costas. Tudo isso acaba fazendo com que a responsabilidade seja do próprio indivíduo. 


        Na sociologia, na medicina e na sociedade, o suicídio é visto como um problema de fora, sendo classificado, quantificado, generalizado. Pode ser um problema coletivo, um afrouxamento social, enfraquecimento de laços sociais, falta de Deus, clima, hereditariedade e diversas explicações científicas tem sido dadas pela maioria das ciências, criando teorias de prevenção em favor da vida.

Mas.. e a morte, quem olha?  A fantasia, as ideações, o devaneio, o indivíduo e sua alma.. quem olha? A ideia do suicídio vem carregado de significado e, nós, Psicólogos, perguntamo-nos que tragédia pessoal o faz escolher a morte. 

Os problemas não são classificáveis ou categorias médicas e sim, acima de tudo, experiências, sofrimentos e dores. O lado de fora é classificável, mas o lado de dentro é vivenciado, experienciado e cheio de significado. Nossa alma é cheia de imprecisões e complexidades, e cada um é um universo infinito e particular ao mesmo tempo que possui conteúdos coletivos, culturais. Acontece que, generalizar uma dor e quantificar o suicídio já é uma violência em si contra o ser humano.

Do ponto de vista sociológico, médico e teológico o suicídio pode ser prevenido, porém, antes de conhecer a alma que está por trás deste ou daquele sofrimento, não conseguirá. O Psicólogo é o único capacitado a  trazer o suicídio para perto e vivenciá-lo tal como seu paciente, chegando onde o suicídio faz sentido. 



O médico Psiquiatra não está apto a realizar este trabalho. Ele  de fora, seu único comprometimento é com a vida. Lhe prescreverá medicamentos para afastar a morte e a dor de viver.

O Psicólogo está comprometido com a alma daquele que o procura, ele conseguirá estar, ao mesmo tempo, dentro e fora, experienciando e observando. É o único profissional que dará atenção também e principalmente à morte, sabendo que ela não está sendo experienciada pelo ser e, por isso, vem à tona através de emoções, sentimentos e fantasias suicidas.

Vivemos para morrer. A vida só adquire valor porque está atrelada à morte, pois, é uma condição existencial: a condição de que a vida só tem sentido pela certeza da morte e, se não há sentido em viver, a morte pode parecer ser melhor escolha. 

Na Psicologia vida e morte podem ser experienciadas juntas: a morte pode ser experienciada durante a vida: simbolicamente através de fantasias, sonhos, nos sintomas de ansiedade aguda, nas experiências de quase morte, nas visões e, qualquer ato que afaste a morte, impede a vida. 






Referência: HILMANN, James. Suicídio e Alma. Tradução: Sônia Maria Caiuby Labate, Petrópolis, RJ; Vozes, 1993.

domingo, 1 de setembro de 2019


Autismo e neurodiversidade


 

Você já ouviu falar no termo neurodiversidade? 


O termo neurodiversidade foi cunhado pela socióloga e portadora da síndrome de Asperger Judy Singer em 1999 num texto com o sugestivo título de “Por que você não pode ser normal uma vez na sua vida? De um ‘problema sem nome’ para a emergência de uma nova categoria de diferença”, ou seja, trata-se de uma diferença humana que deve ser respeitada como outras diferenças, sejam elas raciais, sexuais, entre outras, também chamado neurologicamente divergentes ou neuroatípicos.

Diversas pessoas atualmente são diagnosticadas com o transtorno do espetro autista em todas as idades, desde a forma mais branda e de alto funcionamento (chamado Aspergers) até as formas mais severas, de baixo funcionamento, no qual há a ausência da fala entre outras dificuldades.

Pessoas como Bill Gates, Albert Einstein, Lionel Messi, Wood Alen e Isaac Newton são considerados ou diagnosticados autistas e provavelmente você nem sabia!


E aí.. Autista é deficiente ou neurodiverso?

Para alguns teóricos sobre modelos sociais, o conceito de deficiência só é considerado desvantajoso ou problemático porque vivemos em um ambiente social que considera isso desvantajoso. Exemplo: Andar de cadeira de rodas é um problema apenas por vivermos em um mundo cheio de escadas. Da mesma forma, podemos pensar no autista: só é um problema porque nossa sociedade estabelece o contato visual como um elemento básico para interação humana.

Se formos pensar bem, podemos estender isso mais além. Nossa sociedade cultua o corpo perfeito, onde os gordos, velhos e “deficientes” são rejeitados e excluídos. Isso só aumenta o preconceito e faz com que as pessoas sintam-se fracassadas por não atingirem o modelo ideal.

Você sabia que no século 19 os surdos eram considerados estrangeiros vivendo nos Estados Unidos e foi até cogitado pelo movimentos dos surdos fundar um estado no Oeste do país e, na Inglaterra, no anos 1880, foi sugerido que os surdos deixassem seu país e criassem um estado de surdos no Canadá? Pois é.. e hoje temos uma grande evolução em leis de inclusão e também na aprovação da lei que reconhece LIBRAS como um língua assim como o Português – A Linguagem Brasileira de  Sinais.

Existe atualmente, a chamada cultura autista, analogamente ao orgulho surdo, uma tomada de consciência de um grupo que foi estigmatizado pela maioria da sociedade. É uma autodeclaração de uma identidade: afirmar “sou surdo” ou “sou autista” permite que o discurso da dependência e anormalidade seja substituído pela celebração e o orgulho de ser autista, ser neurodivergente.

A procura pela cura dos autistas levaram diversas pessoas com esse espectro a se sentirem incompreendidos e desconsiderados e, como consequência disso, em 1992, surgiu entre os autistas australianos e dos Estados Unidos a Autism Network International (ANI) como o lema “nada sobre nós, sem nós”, ou seja, a tomada de decisões, no que se refere aos autistas, não pode acontecer sem a participação dos próprios autistas.


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Em contrapartida há também associações de pais pró-cura como a AMA (Associação de Amigos de Autistas) lutando pelo direito de terem terapias e medicamentos garantidos por lei para seus filhos autistas, principalmente a terapia cognitiva ABA (Análise Aplicada do comportamento – Applied Behavior Analysis) que, para muitos pais constitui a única terapia que permite que as crianças autistas realizem algum progresso no estabelecimento de contato visual e em certas tarefas cognitivas.

Para os ativistas do movimento anticura, essa terapia reprime a forma de expressão natural dos autistas e o movimento também visa impedir a ação medicamentosa desnecessária.

O fato é que, diante dos dois lados, o transtorno continua sendo uma categoria problemática, pois não existe consenso nem em relação à origem do transtorno, nem acerca da intervenção clínica mais adequada.

Toda essa discussão pode levar à questões sobre políticas públicas que possibilitassem o acesso ao tratamento àqueles que desejam ser tratados, o direito à recusa de quem não quer e também em um modelo de educação no qual respeitasse a diferença de cada criança cujas qualidades fossem maximizadas e defeitos minimizados.

Isso abre para outras questões também. Com o avanço das tecnologias, logo se encontrará um método para detectar o autismo em fetos e, com isso, a permissão do aborto nesses casos. É uma questão delicada, pois, até que ponto os exames conseguirão detectar o grau de autismo que a pessoa desenvolverá? Escolheríamos apenas pessoas perfeitas para o nosso padrão de perfeição?

Pró-cura ou anticura, o importante é pensarmos sempre na aceitação das diferenças e respeitar o padrão de funcionamento de cada um.

Se você conhece uma pessoa autista, procure saber o que a incomoda, mas saiba que ela pode gostar sim de interagir com os outros. Assim como uma pessoa neurotípica tem suas preferências (eu, por exemplo, sou introvertida e, geralmente não começo assuntos a não ser que a pessoa venha conversar comigo!) a pessoa autista também tem seu modo de agir no mundo! Aliás, todos tem sua forma, não é mesmo? =)




Na Psicologia, temos o dever de respeitar a natureza e a diferença das pessoas, sem violentá-las ou estigmatizá-las por qualquer condição que se encontre, isto está em um dos princípios fundamentais no nosso código de ética: “II. O psicólogo trabalhará visando promover a saúde e a qualidade de vida das pessoas e das coletividades e contribuirá para a eliminação de quaisquer formas de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.”

Se você quiser saber mais sobre o mundo autista, existem diversos sites e vídeos feitos por autistas que explicam mais a fundo suas experiências e diferenças, alguns deles: 

           https://www.youtube.com/watch?v=TknFlj_xUK4






Referência: ORTEGA, Francisco. Deficiência, Autismo e neurodiversidade. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/csc/v14n1/a12v14n1.pdf

sexta-feira, 16 de agosto de 2019


Qual tipo psicológico é predominante em você?

       Nossa consciência possui um certo número de funções que orienta nossa manipulação do meio que nos cerca. Entre elas temos as mais conhecidas: sensação, pensamento, sentimento e intuição. Pensamento e sentimento; sensação e intuição, são funções contrárias que possuem energia psíquica oposta, ou seja, se você é do tipo pensamento, provavelmente terá dificuldades com os sentimentos ou vice-versa e se é do tipo sensação, terá dificuldades com a intuição ou vice-versa.

É bom lembrar que seu tipo psicológico é predominante, isso não quer dizer que você não possua as outras funções, mas que elas funcionam em segundo plano na maioria das situações.

     Caso você se ache dotado de um perfeito raciocínio e intelectualidade e é dirigido por ela, provavelmente seu tipo psicológico predominante seja o pensamento. As pessoas do tipo pensamento tem o dom de conceber saídas novas para os problemas, podem pensar qualquer coisa totalmente diferente ou no contrário de alguma hipótese e, geralmente, como seu oposto, tem medo de serem tomados pelos sentimentos e tendem a reprimi-los. É aí que você pode ser “possuído” por eles além da sua vontade. Geralmente controlam os sentimentos a punhos de ferro, pois sabem onde mora o perigo. 

       Antes de falar sobre as pessoas dirigidas pela função sentimento, é importante lembrar do seu conceito e acredito não ser muito conhecido: O sentimento é o valor que damos às situações ou às coisas, ou seja, se ela é aceitável, nos agrada ou não.


  Se você é uma pessoa que possui grande comunicabilidade, demonstrando grande senso de valoração e consegue criar situações que envolvam sentimento e vivê-las, pode-se dizer que você é do tipo sentimento e, muito provavelmente, possui dificuldades na função pensamento. Geralmente essas pessoas se aborrecem com raciocínios ou certo tipos de ideias e, por vezes, são subitamente tomadas e enroladas por eles, tornando-se escravos dos pensamentos em determinados momentos.    


Se você é o tipo de pessoa com agudo senso de observação objetiva, provavelmente sua função predominante seja sensação. Dá uma olhada no seu instagram: se você costuma postar fotos de uma mesa muito bem decorada, com uma taça e flores na janela ou quando para a olhar o horizonte as linhas de direção de seus olhos convergem num determinado ponto, já sabe! Pode-se dizer que essas pessoas tem dificuldades com sua intuição. Para as pessoas do tipo sensação, algo só é verdadeiro quando é real, concreto e, se lhe tiram as quatro paredes que lhe cercam, parece que o mundo desaba.

       Mas existe ainda uma função que, quando utilizada, não se sabe explicar de onde vem: a intuição. Se você é do tipo intuitivo, seus olhos costumam cobrir a superfície das coisas, ver o todo e não se prende a detalhes. Sabe que a coisa é, não sabe como se processou mas, simplesmente é. Seu oposto é a sensação e essas pessoas comumente se irritam quando lhes é posto a realidade concreta e, nisso, quase sempre fracassam. Coloque-o entre quatro paredes e ele arrumará algum jeito de fugir para alcançar novas possibilidades. Geralmente começa várias tarefas e nunca as termina, pois está sempre com novas esperanças à sua frente. 



        Essas funções são sempre controladas pela vontade, podemos colocá-las fora de uso, suprimi-las, selecioná-las ou aumentá-las e são sempre dirigidas pela intenção, porém, muitas vezes, podem agir de modo autônomo, pensando e sentindo em nosso lugar e escapam do nosso controle ou mesmo agem de modo inconsciente, sem sabermos o que aconteceu e, quando iniciam, raramente podem ser interrompidas.

Conseguiu se identificar em algum deles? =)


Referência: JUNG, C.G. Fundamentos da Psicologia Analítica – Primeira Conferência, p. 8 – 16, 1985.

quarta-feira, 14 de agosto de 2019


Será que a personalidade do Psicólogo importa?


            Muitas pessoas responderiam: "Claro que não, não serei amigo do meu Psicólogo!"

            Contrariamente ao que a maioria pensa e talvez até o que alguns Psicólogos dizem, na Psicologia de Jung (Psicologia Junguiana), é infinitamente mais importante para o tratamento psíquico as duas personalidades (tanto a do Psicólogo quanto a do paciente) do que aquilo que falamos – não que se possa menosprezar o que é dito, pois também é importante como um fator de perturbação ou cura.

Parece complicado? Eu explico melhor: no encontro entre Psicoterapeuta e paciente, o método (dialético) influencia bastante, pois, o Psicólogo Junguiano jamais vai esquivar-se da influência do paciente sobre ele, jamais se esconderá atrás do profissionalismo ou autoridade. Ali, será somente o encontro entre duas pessoas, duas substâncias químicas, onde o Psicólogo mergulhará no mundo de seu paciente e vice-versa, e ambos sairão transformados.

Jung tem uma frase bem conhecida pelas redes sociais que expressam de outra forma o que eu quero dizer: “Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana.”


            A dor do paciente, naquele momento, torna-se a nossa dor, isso chama-se empatia, aquela capacidade de dar um passeio do lado de lá, onde deixamos algo de nós e levamos algo dele. 







Referência: JUNG, C.G. A Prática da Psicoterapia - Cap. V, p. 66-73, 1971.

terça-feira, 13 de agosto de 2019


Sou um ser “ajustado” socialmente?


Algumas pessoas buscam, de alguma forma serem “ajustados socialmente ou mesmo a “normalidade”, não é mesmo? Por exemplo: Meu irmão mais velho terminou o ensino médio, fez faculdade em seguida, formou-se e está trabalhando na sua área a ganhando muito dinheiro, mas eu, não sei nem qual curso quero cursar, pois, nada ou tudo me parece atrativo. A comparação com seu irmão lhe causa sofrimento, pois, provavelmente, foi-lhe ensinado que seu irmão é socialmente ajustado e você não.

            No entanto, para outros, a simples noção de normal parece limitar-se à média, que só pode ser sentido por aquele que tem dificuldades em dar conta da sua vida no mundo que o cerca. Esse é somente um ponto de vista, pois, provavelmente, para seu irmão, que não teve dificuldade em alcançar sucessos e objetivos, a ideia de ser “normal” torna-se insuportável, sem esperança. Ou seja, alguns adoecem porque são apenas normais e outros porque não conseguem tornarem-se normais.

            As pessoas só se satisfazem com aquilo que ainda não tem. Num exemplo muito simples, eu mesma: nasci com um cabelo ralo e liso e até hoje sonho em ter um cabelão cacheado até o pé,  mas, as mulheres que nasceram providas de um cabelão desses sonham em ter um cabelo como o meu.

            As necessidades não são iguais para todo mundo! As exigências das pessoas são as mais variadas possíveis.


Qual a sua? =)





Referência: JUNG, C.G. A prática da Psicoterapia. Cap. V, p. 63 - 65, 1971.